O pintor morreu em maio deste ano, enquanto pintava mais uma vez a Igreja Matriz de Nossa Senhora Aparecida, em Três Pontas
O dia de Nossa Senhora Imaculada Conceição, celebrado em todo o país neste 8 de dezembro, teve um significado especial em Três Pontas. A data marca também o aniversário de fundação da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, criada em 1959 e considerada a segunda mais antiga do município, terra do Beato Padre Victor e da Venerável Nossa Mãe. A missão, confiada inicialmente aos padres redentoristas, foi sendo transmitida ao longo das gerações, e hoje a paróquia abrange 18 comunidades — 14 rurais e 4 urbanas.
A igreja estava cheia para a missa solene, que uniu a celebração da Imaculada Conceição e os 66 anos da paróquia. Durante a homilia, o pároco padre Alexandre Mancilha destacou o trabalho pastoral realizado ao longo dessas décadas. “Procuram levar a esperança, o amor, nas pastorais e movimentos, para tantas pessoas, sobretudo os mais pobres e necessitados. Agradecemos a Deus por esta caminhada até então.”
Ele pediu que, ao celebrar a solenidade, todos buscassem a intercessão de Maria “pela nossa vida, nossos trabalhos, família, amigos e pela paróquia, que nestes 66 anos, anuncia o evangelho da salvação”. O sacerdote ressaltou ainda que, em seus quase cinco anos como pároco, tem a satisfação de perceber quantas pessoas — fiéis, líderes de pastorais e agentes — procuram viver a fé unidos a Cristo, tendo Maria como mãe e companheira. Recordou que muitos frutos colhidos hoje surgiram do trabalho dos antepassados que lançaram a semente do Evangelho na comunidade. “Tudo aquilo que existe na comunidade paroquial, seja os edifícios de pedra, nada mais é que uma expressão viva, de uma comunidade orante, que participa, colabora e ajuda e não mede esforços para anunciar o evangelho do Cristo.”
Momento de emoção e homenagens
Na parte final da missa comemorativa, o momento mais emocionante foi o resgate da história da paróquia. A coordenadora do Conselho Pastoral Paroquial (CPP), Reginara Aparecida Naves, fez a leitura sobre a trajetória da “famosa igrejinha D’Aparecida”, como muitos carinhosamente a chamam — não por diminuir sua importância ou estrutura, mas por traduzir o carinho do povo pela Casa dedicada à padroeira do Brasil.” Lembrou que a paróquia é fruto de mãos simples, corações generosos e da confiança de um povo que sempre acreditou na força da fé e da união.
O CPP expressou profunda gratidão a todos que, ao longo das décadas, cuidaram, sonharam, construíram e mantiveram viva a paróquia: pioneiros, iniciadores de pastorais, famílias que doaram tempo e trabalho, além dos sacerdotes — incluindo os já falecidos — que deixaram sua marca. O reconhecimento se estendeu também aos funcionários e ao diácono Geraldo Oliveira, que há mais de 50 anos serve à comunidade e é considerado o braço direito do pároco.
Foi lembrado ainda o empenho de padre Alexandre, que mesmo diante de desafios, dor e desgaste, não desistiu da recente reforma da Igreja Matriz, tornando-a mais acolhedora e digna para a comunidade.
A homenagem mais forte da noite: Seu Vivaldi
A procissão trouxe um dos atos mais marcantes da celebração. À frente, foi levado um quadro com a foto do pintor Vivaldi Marcelino, de 79 anos, conhecido como Seu Vivaldi, cuja morte em maio deste ano comoveu toda a cidade. Ele trabalhava na pintura da Matriz quando caiu e morreu em frente à porta principal — a mesma que já havia pintado outras vezes ao longo da vida. Seus filhos estavam presentes na missa e se emocionaram profundamente com a homenagem.
Seu Vivaldi era descrito como um homem simples, trabalhador e profundamente dedicado à paróquia. Por anos contribuiu para a beleza da igreja, deixando sua marca nas fases de pintura branca, azul e, finalmente, dourada — sua última obra. “Cada detalhe carrega um pouco do seu esforço e carinho”, destacou-se.
Os coordenadores das pastorais prestaram ainda uma homenagem com um painel contendo testemunhos, histórias, dons e contribuições deixadas por fiéis ao longo desses 66 anos.
Ao final da missa, os paroquianos participaram de uma procissão luminosa com a imagem da Imaculada Conceição pelas ruas em torno da igreja. Ao retornarem à Matriz, receberam a bênção e encerraram a noite de fé, emoção e nostalgia com bolo — como em todo aniversário — celebrando juntos mais um capítulo da história da Paróquia Nossa Senhora Aparecida.
