*Empresas enfrentam dificuldades para contratar profissionais dispostos à formalização trabalhista
O setor da construção civil em Três Pontas vive um momento de grande desafio. Apesar do ritmo acelerado de obras públicas e privadas, avançam por toda a cidade, refletindo o aquecimento da economia local. No entanto, esse bom momento também expõe um grande desafio: empresas têm enfrentado sérias dificuldades para contratar pedreiros, serventes, eletricistas, encanadores e outros profissionais especializados. No último domingo, dia 26, foi comemorado o Dia do Trabalhador da Construção Civil e a Equipe Positiva fez um levantamento, que mostra o retrato da construção civil.
Segundo Thiago Vilela de Oliveira, da Vinhas Engenharia, essa escassez não é um fenômeno recente, mas tem se agravado nos últimos dois anos. “A dificuldade em encontrar mão de obra qualificada sempre existiu, mas antes bastava oferecer um pagamento melhor para conseguir bons profissionais. Hoje, mesmo com boas condições, o problema é outro: a informalidade. Muitos preferem não ter registro em carteira para não perder benefícios sociais como o Bolsa Família”, explica.
A mesma realidade é observada por Fabiano Gomes, engenheiro responsável pela Gomes e Brito Engenharia, que atua na construção do novo Pronto Atendimento Municipal (PAM) em parceria com a Santa Casa de Misericórdia do Hospital São Francisco de Assis. Ele confirma que a falta de trabalhadores tem causado atrasos significativos. “Nosso cronograma está extremamente comprometido. Temos dificuldade para contratar, principalmente serventes e pedreiros. Quando conseguimos, muitos se recusam a formalizar o vínculo empregatício por medo de perder benefícios governamentais”, relata.
A informalidade e o dilema social

O dilema entre manter benefícios sociais e aceitar um emprego formal tem se tornado um dos principais entraves para o setor. “É uma luta de dois lados: o governo exige a formalização, mas ao mesmo tempo oferece benefícios que desestimulam o registro. O resultado é que muitos preferem continuar na informalidade, mesmo ganhando menos e sem garantias trabalhistas”, destaca Thiago Vilela.
Para empresas que atuam com contratos públicos, a situação é ainda mais delicada, já que a legislação obriga o registro de todos os trabalhadores. “Nós não temos alternativa. As obras públicas exigem que toda a equipe seja formalizada e com impostos recolhidos corretamente. Mas muitos profissionais simplesmente recusam o emprego ao saber disso”, completa.
Geração que não quer “botar a mão na massa”
Outro ponto de preocupação é a falta de renovação geracional. As empresas relatam que quase não existem jovens interessados em ingressar na construção civil. “Há um envelhecimento evidente da mão de obra. Os pedreiros e mestres de obras estão cada vez mais velhos, e não há novos profissionais surgindo. Hoje, dentro da empresa, eu não tenho nenhum pedreiro abaixo de 25 anos”, comenta Thiago.
Fabiano concorda e acrescenta que o perfil do jovem mudou. “Muitos não querem trabalhos pesados ou expostos ao sol. Preferem áreas ligadas à tecnologia, internet ou escritório. A construção civil perdeu atratividade, mesmo oferecendo salários razoáveis”, afirma.
Impacto no cronograma das obras
A escassez de trabalhadores qualificados tem reflexos diretos no andamento das obras em todo o município. “No caso do PAM, por exemplo, há trechos que ficaram parados por falta de pessoal. É algo que compromete o cronograma e a entrega dos serviços à população”, lamenta Fabiano.
O engenheiro também cita outro fator que agrava a situação: a concorrência temporária com o campo. “Durante a colheita do café, muitos serventes e pedreiros deixam as obras para trabalhar na lavoura, onde conseguem diárias mais altas. Isso gera uma evasão sazonal de mão de obra e atrasa ainda mais as construções”, explica.
Perspectivas e necessidade de formação
As duas empresas concordam que a solução passa pela formação de novos profissionais e pela valorização das profissões da base da construção civil. “Ser pedreiro, carpinteiro ou eletricista é uma arte. Requer técnica, aprendizado e experiência. Mas, infelizmente, a sociedade deixou de enxergar essas funções com o respeito que merecem”, reflete Thiago Vilela.
Já Fabiano defende um esforço conjunto entre governo, escolas técnicas e empresas para reverter o quadro. “Precisamos investir em qualificação e conscientizar a população sobre a importância do trabalho formal. Só assim vamos conseguir equilibrar o crescimento da construção civil com a dignidade do trabalhador”, conclui.


