Cerca de 50 mil pessoas passaram por Três Pontas no fim de semana da Festa do Padre Victor

 

Três Pontas viveu dias intensos de fé, tradição e devoção. O movimento começou ainda na madrugada do dia 23, quando os primeiros romeiros que chegaram a pé buscavam descansar nas escadarias ou entre os bancos do Santuário Diocesano de Nossa Senhora D’Ajuda. Desde as 3 horas da manhã, todas as missas celebradas estiveram lotadas, com grande participação também de trespontanos que, como gesto de devoção, vão de carro até cidades vizinhas, como Santana da Vargem e Varginha, e retornam a pé.

Às 4 horas da madrugada, a Corporação Musical Luiz Antônio Ribeiro manteve a tradição da Alvorada Festiva. Diante da imagem de Padre Victor no andor, os músicos apresentaram o Hino da Cidade, o Hino de Padre Victor e cânticos religiosos. Este ano, a homenagem foi dedicada a Geraldo Gabriel Azevedo, o Gegê do IPREV, presença constante que sempre aguardava a chegada da corporação.

Na mesma hora, a barraca do tradicional cafezinho já estava em plena atividade. Um batalhão de voluntários se revezou para oferecer gratuitamente pão com manteiga, leite com chocolate quente, café e água. O gesto simples, inspirado no exemplo de Padre Victor, que sempre dividiu o que tinha com os mais pobres, resultou em filas que, por volta das 8 horas, se estendiam da Praça Cônego Victor até a Base de Segurança Comunitária da Polícia Militar.

Outro gesto de solidariedade marcou profundamente a data: no horário do almoço, muitos trespontanos prepararam e distribuíram dezenas de marmitex gratuitamente no Centro da cidade. A iniciativa ameniza a fome dos romeiros que chegam de longe, muitas vezes com pouco dinheiro, garantindo a eles não apenas alimento, mas acolhimento fraterno.

A fila para visitar os restos mortais do Beato contornava o Santuário, seguia pela Casa Paroquial e dobrava a esquina da Rua São Pedro. A espera variava de 40 minutos a uma hora, mas os peregrinos eram acolhidos com água, tendas para amenizar o calor — que chegou aos 30 graus — e a oportunidade de acompanhar as celebrações por um telão, rezar diante da herma de Padre Victor enfeitada com copos-de-leite e acender velas em agradecimento.

As manifestações culturais também deram um tom especial à celebração. Grupos de congada, moçambique e folias de reis se apresentaram desde o fim de semana, com maior intensidade no domingo e apogeu na terça-feira, dia dedicado ao Beato Padre Victor. Muitos o consideram santo, apesar da ausência de um milagre oficial reconhecido pelo Vaticano.

Na área central, de frente às agências bancárias, romeiros e visitantes puderam conhecer e adquirir produtos artesanais da cidade. Entre lembrancinhas variadas, destacaram-se objetos ligados à memória de Padre Victor, que rapidamente se tornaram os itens mais procurados. No Memorial Padre Victor, a movimentação foi constante: o espaço esteve lotado durante todo o dia, reunindo fiéis curiosos e emocionados em conhecer de perto os pertences do sacerdote e reviver capítulos marcantes de sua história.

A estrutura montada especialmente para acolher os romeiros também fez diferença. Além do apoio voluntário, a sede da Associação Padre Victor ofereceu sanitários masculinos e femininos independentes, fraldários e pontos de apoio gratuitos. Tendas foram montadas para registro das romarias e dos testemunhos de graças alcançadas — relatos que, futuramente, podem se transformar no milagre necessário para a canonização de Padre Victor.

A Capela Santa Cruz, na comunidade da Faxina, também recebeu peregrinos, mantendo a tradição no local onde Padre Victor costumava rezar em suas visitas à zona rural. Entre os grupos que chegaram a Três Pontas, um em especial chamou atenção: 10 romeiros de Luminárias, que caminharam por dois dias, passando por Carmo da Cachoeira, enfrentando a escuridão da noite iluminada pela fé.

Um dos momentos mais aguardados foi a missa das 9 horas, celebrada no Santuário por Dom José Luis Majella, arcebispo metropolitano de Pouso Alegre, convidado pelo pároco e reitor, cônego Douglas, durante o período de vacância da Diocese da Campanha. Concelebraram o administrador diocesano, cônego Luzair Coelho de Abreu, sacerdotes da diocese, diáconos, seminaristas e 16 cônegos da Insígnia Colegiada de São Pedro. Diante da igreja lotada, Dom Majella destacou a importância do Ano Jubilar da Esperança, convocando os fiéis a redescobrirem o Evangelho como boa nova e a viverem a fé em caminhada.

No Parque Multiuso da Mina, o movimento foi intenso durante todo o dia. Barracas de alimentos, roupas, artigos religiosos e até eletroeletrônicos atraíram visitantes, que também aproveitavam para se refrescar com a água da Mina, considerada milagrosa por muitos, e reforçar suas orações.

Apesar da grande concentração de fiéis, o balanço final foi considerado exemplar. Não houve registro de ocorrências pela Polícia Militar, Polícia Militar Rodoviária, Corpo de Bombeiros, Guarda Civil Municipal ou pela concessionária EPR Vias do Café, que atua na administração da MG-167. O sucesso na organização se deve à integração entre Associação Padre Victor, Prefeitura Municipal, Paróquia Nossa Senhora D’Ajuda, forças de segurança, equipes particulares, voluntários e serviços de apoio.

De acordo com a Polícia Militar, cerca de 50 mil pessoas passaram por Três Pontas no fim de semana e feriado por causa da festa.

Assim, o evento se consolidou mais uma vez como um marco de fé e devoção, que reuniu multidões em clima de paz, solidariedade e religiosidade, fortalecendo a tradição que há mais de um século movimenta Três Pontas e toda a região.


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