Por Mariana Tiso para Equipe Positiva
O público que acompanhou a final do 13º Festival Canto Aberto, realizada no último fim de semana em Três Pontas, viveu um daqueles momentos em que música e emoção se fundem num só sentimento. A canção “A Voz do Meu Velho Avô”, composta e interpretada por Danilo Santos, foi a grande vencedora da edição de 2025 — e não apenas por sua melodia envolvente, mas por carregar consigo uma história que tocou fundo o coração de quem ouviu.
Em entrevista exclusiva à Equipe Positiva, o artista contou como foi vencer pela segunda vez o festival, que também marcou sua estreia no circuito de festivais em 2018. Danilo compartilhou as origens da música vencedora, a influência do bisavô José Godofredo em sua trajetória e os sonhos que ainda alimenta com a música autoral.
José Godofredo teve sua história profundamente ligada à Usina Boa Vista, onde trabalhou como carreiro, jardineiro, rezador, catequista e grande incentivador da fé e da cultura popular. Querido por todos, foi o fundador da primeira Companhia de Reis dos Três Reis do Oriente e um dos idealizadores do tradicional Encontro das Companhias de Reis, que se tornou símbolo da tradição trespontana.
Homem de fé, simplicidade e grande coração, teve seu nome eternizado em 2022, quando a Praça dos Três Reis Magos, no Jardim Boa Vista, passou a se chamar Praça José Godofredo, em homenagem ao seu legado e à sua dedicação à comunidade.
Como começou sua relação com a música?
“Minha relação com a música começou ainda na infância, por influência do meu bisavô, José Godofredo. Ele era muito presente nas festas de Folia de Reis e sempre teve um grande apreço pela cultura popular. Crescer ao lado dele foi como crescer dentro de um mundo cheio de som, tradição e significado. Com o tempo, me encantei pela viola. Quando ouvi aquele som pela primeira vez, senti algo diferente. Era como se ela traduzisse algo que eu já carregava no peito, mesmo sem saber. A partir dali, nunca mais me desliguei desse caminho.”
O que representou essa vitória no Festival Canto Aberto?
“Essa vitória representa muita coisa. Primeiro, é o reconhecimento de um trabalho que nasceu do coração. É uma validação muito bonita, principalmente por se tratar de uma canção tão pessoal. Além disso, o Festival Canto Aberto me abriu as portas lá em 2018, onde pude me apresentar pela primeira vez na cena festivaleira e já de cara me sagrar campeão daquele ano. Foi a partir dali que comecei a desbravar os festivais pelo Brasil, levando o meu toque de viola, minhas composições e conhecendo artistas incríveis. O Festival Canto Aberto sem dúvidas foi um ponto de virada na minha trajetória.”

Como surgiu a composição da música vencedora?
“A composição nasceu de forma muito sincera, num momento em que eu estava revivendo lembranças da infância. Eu me peguei pensando na figura do meu bisavô e em tudo que ele representou pra mim e pra nossa família. A voz dele, o jeito de falar, os ensinamentos simples, mas profundos… tudo isso ficou guardado em mim e, um dia, veio em forma de melodia. A música surgiu como uma homenagem, mas também como uma tentativa de eternizar aquele carinho e aquela sabedoria em forma de canção. Não foi algo planejado, ela simplesmente veio, como se ele estivesse ali comigo, guiando cada verso. O mais bonito é que, ao cantar essa história, percebi que muita gente se identificou. As pessoas lembraram dos seus avôs, das suas raízes, da infância… e isso me tocou profundamente, porque a música cumpriu seu papel de criar conexão.”
Pode contar um pouco mais da história por trás dela e da inspiração familiar envolvida?
“A música foi feita em homenagem ao meu bisavô, José Godofredo, uma figura extremamente marcante na minha vida. Ele era um homem do campo, muito simples, mas com uma sabedoria que ia muito além dos livros. Cresci ouvindo seus causos, acompanhando suas tradições e aprendendo com o jeito calmo e firme com que ele levava a vida. A voz dele tinha um peso afetivo enorme pra mim, era sinônimo de acolhimento, de verdade, de raiz. Quando compus essa canção, foi como se eu estivesse revivendo nossas conversas e os momentos que passamos juntos. A inspiração veio desse vínculo afetivo e da vontade de eternizar em forma de música tudo o que ele representou pra mim e pra nossa família. É uma canção que carrega memória, respeito e muito amor.”

E agora, quais são os próximos passos com a música?
“Quero continuar compondo com verdade, levando minhas raízes para os palcos e, quem sabe, registrando tudo isso em um álbum autoral. Minha missão é manter vivo esse elo entre a música e as pessoas. Espero que cada canção que eu fizer consiga tocar alguém da mesma forma que ‘A Voz do Meu Velho Avô’ tocou. Porque no fim das contas, é isso que mais importa pra mim, fabricar emoções com a minha música.”
O 13º Festival Canto Aberto, realizado pela Prefeitura de Três Pontas por meio da Secretaria Municipal de Cultura, mais uma vez provou sua força ao revelar e valorizar artistas da canção autoral brasileira. A vitória de Danilo Santos reafirma o compromisso do evento com a sensibilidade, a memória e a verdade — valores que, quando transformados em música, ultrapassam o palco e chegam onde realmente importa: no coração do público.